terça-feira, 22 de setembro de 2009

Inicio da 5ª semana

O tempo passa a correr e mesmo aqui sinto o que já algum tempo andava a sentir, o tempo não passa, voa. A falta de entradas no blog, não se deve à falta de novidades diárias, mas sim há falta de tempo. Os dias são preenchidos em grande parte pelo trabalho e pouco fica para o lazer, logo para a escrita. A experiência tem sido única e rica sobretudo em sentires. Os locais, dizem que estou quase uma verdadeira Santomense. Encontro-me na segunda semana de supervisão, ou seja, neste momento estou nos locais de trabalho, a fazer supervisão aos técnicos que receberam formação. Este processo leva-me a ir ao seu encontro, logo tenho percorrido o país, já fui a quatro distritos, de Norte a Sul da ilha. Nada melhor do que trabalhar e conhecer ao mesmo tempo este país, que para mim tem uma beleza única. Nada melhor que estar atenta às conversas e desde o primeiro dia, que comecei a cravar boleias. Percebi que os técnicos vão para o trabalho numa carrinha todos juntos e eu decidi associar-me a eles. Então comecei por perceber os locais de encontro diários, para cada distrito e é ver-me a ir com eles, após uma ida a padaria, comprar o mata bicho. Mais ou menos já me sinto uma cidadã de STP, já conheço as ruas, as pessoas, enfim cá estou eu. O fim-de-semana que passou decidimos ir descansar até à roça do João, mais conhecida por ser a dos Tachos. Choveu em Angolares, mais foi um fim-de-semana tranquilo, com uma paisagem indescritível, até que o carro alugado ficou sem bateria. Nada se grave, têm que existir estas histórias, se não seria tudo sem graça. Esta roça fica para Sul e antes de irmos, fomos até à Praia do Governador, a Norte, onde o calor se fazia sentir e deu para uns mergulhos, haja clima tropical.
Nunca na minha vida vi tanta grávida, a maioria dos testes VIH são realizados a grávidas e tenho acompanhado este processo. O que no inicio me chocou, hoje, já está mais do que ultrapassado… raparigas de 13 anos grávidas, mulheres de 34 na sua oitava gravidez, a mentalidade dos homens, que para se sentirem homens, têm que fazer filhos e mais…para as mulheres o estar grávida é um estado natural. Os homens não permitem que elas façam planeamento familiar, logo se o fazem é às escondidas e como eles não são fieis, os conselheiros dão as mulheres preservativos para estas entregarem aos maridos, para quando eles pularem a cerca. É mesmo outra realidade, ou melhor outra cultura. Hoje num momento de paragem, decidi tirar umas fotografias, até que um grupo de miúdos me começa a gritar branca branca, confesso que esta expressão me começa a irritar, virei-me para os miúdos e disse-lhes “olhem lá o meu nome não é branca é ….” Fugiram com esta minha observação. Eu a querer-me integrar e incluir e eles sempre a despertar me para a diferença. Ora bolas em São Tomé há que ser santomense e olhar sempre para trás para ver se se vê uma cara conhecida a quem se possa cravar uma boleia.
CF

2 comentários:

Anônimo disse...

é mesmo verdade. estive aí 2semanas de férias, tenho na minha memória momentos inesquecivéis, mas para além de vivências a imagem que tenho sempre presente são as mulheres grávidas.
relato sempre que só não estão grávidas as mulheres com menos de 1,50 m de altura e as mulheres velhas, que tb não são tantas assim.
gosto de te saber santomense, considero um povo feliz.
mts abraços
i

Anônimo disse...

É incrível como a minha curiosidade em relação a esse país tem vindo a aumentar ... que histórias ... que experiência... através dos teus relatos, sinto-te feliz e encantada por um país com tão pouco e ao mesmo tempo com tanto para oferecer.
Jokitas
HF