segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Algumas curiosidades…

Sem dúvida todos os países têm as suas características e curiosidades, STP, esta pequena ilha perdida algures no Atlântico, também tem as suas. A primeira curiosidade que conto tem a ver com a moeda usada, aqui usamos as dobras, para as trocas comerciais, para terem uma ideia, 1 euro= 23.5000 dobras, câmbio actualizado. Isto significa, que quando vou trocar 150€ para dobras, recebo milhões literalmente, é uma questão de fazer contas, mas é mesmo milhões de dobras. A primeira vez que troquei dinheiro e a Sra. me disse que dava x milhões, senti-me rica, quando ouço milhões, lembro-me do euro milhões e só aí é que pensava ser possuidora de milhões. A maioria das coisas em STP são relativamente acessíveis, claro está para quem recebe salário em euros. Aqui sai mais barato comer fora, do que comprar comida para fazer, produtos de higiene, pasta de dentes, medicamentos, é tudo caríssimo, são considerados luxos. Em contrapartida, compro um maço de cigarros, por 40 mil dobras, o que equivale a pouco mais de um 1€ e qualquer coisa. Mais curiosidades… aqui uma palavra que é pouco usada pelos locais e faz-me alguma confusão, é o obrigado, ninguém usa esta palavra, aliás as vezes que a ouço é dita por estrangeiros. Também é prática do país, os estrangeiros terem todos empregadas domésticas, e na maioria estas vão todos os dias limpar a casa, uma empregada de luxo, recebe 50€ por mês, é mais um serviço que compensa ter. Nós porque somos estrangeiras, temos também um guarda, o nosso chama-se Feliz, não sei se é… mas espero que não durma no serviço, trabalha no período da noite e guarda-nos a nós e à casa. Para além do Feliz, temos dois cães, a São e o Grande, esses sim, tenho a certeza que nos guardam, mal ouvem um ruído estranho é ouvi-los ladrar. Aqui os cães são magríssimos, e cheios de pulgas, pelo menos os nossos, que não gostam de tomar banho, mas atenção vivem na rua. Como tinha dito tivemos um rato em casa, que já foi eliminado, passou a ter o nome de falecido, sim, porque temos outro. Este eu já tive o desprazer de ver, pequeno, veloz e o veneno já foi colocado em locais estratégicos, mas também sabemos que ele ainda anda por aqui. Hoje sábado tínhamos decidido ir à praia de manhã, visto que à tarde iríamos estar presentes numa actividade de trabalho, saímos de casa e reparamos que o jipe precisava de combustível, estava na reserva e pelos vistos aqui, reserva é reserva. Fomos à bomba e qual não é o meu espanto, não há combustível na ilha, está se à espera do barco que deve chegar daqui a 1 hora. Quando nos dizem 1 hora, aqui pelo menos equivale a 3, claro com sorte, porque pontualidade não é de maneira nenhuma um forte de STP. Resumindo claro que não deu para ir a praia. Outra das características deste país, tem a ver com o som das buzinas, os condutores passam a vida a buzinar, num país onde até à data só vi duas passadeiras para peões, sem semáforos e com escassos sinais de trânsito, imaginem a selva que não é conduzir aqui. Mas pior do que conduzir é ser-se peão, nunca temos prioridade, se não nos desviamos somos atropelados, enfim, no outro dia fiquei a pensar que a vida humana, aqui vale pouco, quem manda são os automóveis com as suas buzinadelas diárias.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Praia do Governador

Inicio da 5ª semana

O tempo passa a correr e mesmo aqui sinto o que já algum tempo andava a sentir, o tempo não passa, voa. A falta de entradas no blog, não se deve à falta de novidades diárias, mas sim há falta de tempo. Os dias são preenchidos em grande parte pelo trabalho e pouco fica para o lazer, logo para a escrita. A experiência tem sido única e rica sobretudo em sentires. Os locais, dizem que estou quase uma verdadeira Santomense. Encontro-me na segunda semana de supervisão, ou seja, neste momento estou nos locais de trabalho, a fazer supervisão aos técnicos que receberam formação. Este processo leva-me a ir ao seu encontro, logo tenho percorrido o país, já fui a quatro distritos, de Norte a Sul da ilha. Nada melhor do que trabalhar e conhecer ao mesmo tempo este país, que para mim tem uma beleza única. Nada melhor que estar atenta às conversas e desde o primeiro dia, que comecei a cravar boleias. Percebi que os técnicos vão para o trabalho numa carrinha todos juntos e eu decidi associar-me a eles. Então comecei por perceber os locais de encontro diários, para cada distrito e é ver-me a ir com eles, após uma ida a padaria, comprar o mata bicho. Mais ou menos já me sinto uma cidadã de STP, já conheço as ruas, as pessoas, enfim cá estou eu. O fim-de-semana que passou decidimos ir descansar até à roça do João, mais conhecida por ser a dos Tachos. Choveu em Angolares, mais foi um fim-de-semana tranquilo, com uma paisagem indescritível, até que o carro alugado ficou sem bateria. Nada se grave, têm que existir estas histórias, se não seria tudo sem graça. Esta roça fica para Sul e antes de irmos, fomos até à Praia do Governador, a Norte, onde o calor se fazia sentir e deu para uns mergulhos, haja clima tropical.
Nunca na minha vida vi tanta grávida, a maioria dos testes VIH são realizados a grávidas e tenho acompanhado este processo. O que no inicio me chocou, hoje, já está mais do que ultrapassado… raparigas de 13 anos grávidas, mulheres de 34 na sua oitava gravidez, a mentalidade dos homens, que para se sentirem homens, têm que fazer filhos e mais…para as mulheres o estar grávida é um estado natural. Os homens não permitem que elas façam planeamento familiar, logo se o fazem é às escondidas e como eles não são fieis, os conselheiros dão as mulheres preservativos para estas entregarem aos maridos, para quando eles pularem a cerca. É mesmo outra realidade, ou melhor outra cultura. Hoje num momento de paragem, decidi tirar umas fotografias, até que um grupo de miúdos me começa a gritar branca branca, confesso que esta expressão me começa a irritar, virei-me para os miúdos e disse-lhes “olhem lá o meu nome não é branca é ….” Fugiram com esta minha observação. Eu a querer-me integrar e incluir e eles sempre a despertar me para a diferença. Ora bolas em São Tomé há que ser santomense e olhar sempre para trás para ver se se vê uma cara conhecida a quem se possa cravar uma boleia.
CF

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Crise de Ansiedade!

No domingo acordei ansiosa, não sei se pelo rato, se por estar no PPM, enfim, sentia-me agitada internamente. Fomos até à praia, estava um excelente dia de sol e o mar sem palavras, azul lindo a uma temperatura que não dava tempo para pensar duas vezes até entrarmos. O almoço foi um hambúrguer, há 3 semanas que a única e rara carne que comia era frango, daí o meu estômago ter passado a tarde toda a trabalhar, já nem ele, estava habituado a carne. Descansei e arranjamo-nos, afinal tínhamos um jantar informal com várias pessoas, na casa de um amigo. Posso confidenciar, que uma das convidadas era a Catarina F., foi um jantar agradável e comi mousse, já não via doces também algum tempo. Sem dúvida as coisas aqui, ganham outro valor!
CF

Por aqui é só aventuras!!

Nem sei bem por onde começar, tantas novidades podem acontecer em dois dias, que dizem alguns dias de descanso. Na sexta-feira, de rastos deitamo-nos cedo, mas os planos para sábado eram bons. A manhã estava reservada para as compras, a dispensa estava vazia, e lá fomos, ao mercado e ao supermercado. O almoço foi pesado, na Tia Leo, mas a decisão do digerir com um agradável passeio, fez-nos levantar. O primeiro destino foi a Cascata de São Nicolau, ao deixarmos a cidade para trás a chuva miudinha fez-se sentir e o nevoeiro, cada vez mais cerrado. Cada vez mais próximas, decidimos em determinado momento que era boa ideia, colocar a tracção às rodas, saímos do carro, alteramos o que tinha que ser alterado nas rodas e aí vamos nós. A cascata é bonita, e ainda se tornou mais, com aquele ambiente místico promovido pelas condições climatéricas. Após a visita, descemos até à Roça Monte Café, para além de ser uma das mais conhecidas, também enorme. Fiquei satisfeita por ver que o hospital ainda se encontra em condições dignas de prestar algumas consultas. O resto da roça está entregue a si mesmo, houve trabalho, mas como não havia salário, parou-se o trabalho. Vive uma grande comunidade nesta roça e tivemos um guia que nos foi explicando o que aquela roça foi e porque chegou ao ponto que chegou, mais uma pessoa, que agora designo de biblioteca viva. Nesse final de tarde passamos pela Praia Gamboa e fomos a Missa, muito alegre e dá vontade de ir mais vezes, o único problema, é que as normas para a Gripe A em determinados momentos, ainda não chegou cá a mensagem. Tudo estava a correr bem, até que chegamos a casa e a minha amiga ao entrar no quarto, percebeu que tínhamos um novo hospede lá em casa, um rato. Ficámos surpresas e aterrorizadas, não conseguimos voltar a entrar no quarto e após várias tentativas falhadas, decidimos que o melhor era sair de casa. Jantámos, fomos a um barzinho e depois referi que o que me apetecia era ouvir música europeia. Neste momento a minha amiga fala-me da nova discoteca Beach Club, que ainda não conhecia e único local onde passa este tipo de música. Embora existisse vontade, não estávamos suficientemente bem vestidas para entrar, sem pagar. Tentámos e conseguimos, não estão bem a perceber a minha reacção, estava a entrar no Lux, literalmente, um espaço lindo, boa música e pessoas hiperbemarranjadas… fiquei parva, por um sitio daqueles existir dentro de um contexto como STP, mas nessa noite e após a visita do rato, soube bem este espaço e este momento de dondoca. Bons cadeirões, virados para o mar e por alguns momentos senti-me na Europa.
CF

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

E olha quem entra...

Quando na terra onde tudo pode acontecer, temos um dia em que a partida tudo tem para correr bem, eis que... hoje é sexta feira, último dia da semana e da formação do 2ª grupo. Ok logo pela manhã, bem cedinho tive que fazer uma boa caminhada, com um bafo que só aqui se sente, para tirar umas impressões, ficámos sem tinteiros e para já não havia dobras para comprar mais. Por isso fiz me a estrada, tinha as coisas, mais ou menos organizadas, até que estava muito bem a dar formação, entra a minha colega, e mais quem? perguntam vocês??? era somente a Catarina Furtado, que decidiu vir dar uma vista de olhos pela formação que a ONG onde trabalho, está a promover. Entra a Catarina, entra o camera e nós na nossa formação... filmaram, entrevistaram um dos formandos e eu armada na minha pose hiperprofissional, a fingir que não dava grande importância. Mas estaria a mentir se não dissesse que não fiquei indiferente...após a recolha de imagens, despediu-se de mim com dois beijinhos e um obrigado. Só a conhecia da televisão, sabia-a associada a estas causas sociais, mas até me pareceu bastante simpática, manteve uma postura o mais discreta que a figura dela permite. Após a sua saída, um formando comenta, mas ela hoje não vinha tão bonita como costuma estar na TV (vestidos, saias, hipermaquilhada, cabelo arranjado), a minha resposta foi esta, ah pois não, porque aqui ela não está para dançar, aqui tem mesmo que vir de ténis, afinal estamos no Terreno, aqui as danças são outras! Resumindo, digam-me se esta ilha, nos leva a monotonia, com esta agitação, qualquer dia desejo voltar para Lisboa.
CF

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Não há bela sem senão…

A distância faz-nos sentir, pensar, em coisas, que no nosso mundinho natural jamais nos debruçaríamos. No outro dia dei por mim no banho a pensar se viveria melhor sem água ou sem luz… as duas coisas são imprescindíveis, mas a água ganhou este pensamento. Dei por mim, a sentir uma maior necessidade de ser afectuosa e de receber afecto, não imaginam como me sinto após ouvir a voz de alguém que me telefona. As outras duas mãos no início desta semana ligou, ela queria ouvir a minha voz e eu agradeci por ter tido a possibilidade de ouvir a dela, a melhor comparação é como um bálsamo para a alma. Os dias por aqui passam a correr, o dia começa cedo, mas também termina cedo. Ontem mais um final de dia completamente inesperado, fui visitar um orfanato (penso que o único), estavam lá aproximadamente 30 crianças, em que a mais nova tinha dias e a mais velha 9 anos. Não vos vou descrever o espaço porque não é de todo simpático, mas olhar para aquelas crianças, entregues quase a elas mesmas, fez-me sentir um nó, mas ao mesmo tempo raiva e injustiça, tantas pessoas a quererem dar um lar a uma criança e as burocracias que fazem qualquer um desistir. Estive lá ainda umas duas horas, e sem dúvida, estes ambientes, não me deixam indiferente, vi crianças que simplesmente não sorriem, metemo-nos com elas, brincámos, mas não esboçaram um sorriso. Achei deveras preocupante, mas o que me transtornou mais, foi mesmo um miúdo de 5 anos, virar-se para mim e dizer “leva um menino contigo, olha leva aquele”. Mais do que a sensação de impotência, achei aquela atitude algo de extraordinária, ele não me pediu para o levar a ele, mas sim a um amiguinho ainda bebé.
CF

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A capital...perto do local da formação

Mais um dia...

Primeiro dia de stress em STP, tinhamos combinado que nesta formação não ofericiamos almoço, para além do orçamento ser curto, as pessoas trabalham na cidade logo podiam almoçar onde entendessem, como normalmente. Quero eu dizer a intenção era essa, quando agarro no telefone e ligo a responsável a informá-la, ai credo, como é que não damos almoço, as pessoas já estão a contar, sabem que na semana passada os outros tiveram, bla, bla... deixei da ouvir, fiquei setressada e a pensar que de alguma forma tinhamos que garantir almoço e lanche, para que as pessoas ficassem satisfeitas e a formação corresse normalmente. Para mim, o problema já não era a falta de dinheiro, era mesmo quem ia fazer o almoço, a esta hora. Stressada, a tentar preparar a formação, pastas e afins e ainda o almoço. Passei-me, chateei-me mais sozinha e com o mundo. A formação teve almoço, e para primeiro dia com este grupo correu bem.
Ontem visitei pela primeira vez o médico em STP, não era eu a doente, mas sim a minha amiga, está adoentada e os medicamentos não pareciam fazer efeito. Aguardamos duas horas pelo médico e na sala de espera o passatempo, não é ler revistas, mas sim matar mosquitos, algo sui generis, sempre a ouvir o bater da palmas, e eu a pensar menos um. A nossa outra colega, em perido pré menstrual adora cozinhar, fazer bolos, e nós agradecemos, fez uns pof pof deliciosos e o que sobrou deu para a base da pizza que comemos ao jantar, mais uma vez à luz das velas. Temos aqui um contacto previligiado com a empresa de energia, que nos garantiu que lá para o final de Setembro as coisas vão melhorar a este nível. A mim resta-me esperar muito leve leve, esta terra não é terra de stresses.
CF

Roça Agostinho Neto

Fim-de-semana programado!

O fim de semana começou bem, na 6ª feira ficámos a saber que por no domingo ser o dia das Forças Armadas, na 2ª feira iria ser dada tolerância, logo mais um dia para ficar em casa, ou fazermos o que nos desse na real gana. Contudo e por já há algum tempo o nosso carro andar a fazer uns barulhos estranhos, no sábado ficámos temporariamente sem carro. Mas como era sábado, até soube bem andar a pé, descemos a cidade, tomamos o café da manhã e tudo indicava que íamos ter um dia de muito calor. Após o café fomos ao mercado, conheci pela primeira vez o mercado velho, e tal como o nome indica, mais do que velho é de arrepiar. Os alimentos vendidos no chão, devido às poucas bancadas existentes, águas paradas no meio do mercado, cheiros, à mistura e a náusea mais o calor, fez-nos sair rapidamente dali. Decidimos ir ao mercado novo, que um nadinha melhor, nos possibilitou a compra do primeiro tecido africano, talvez para fazer umas calças e um saco, vamos ver. Também tinha curiosidade e fomos ver o Fardo, venda de roupa em 2ª mão, que com algum tempo e dedicação, até éramos capazes de encontrar alguma coisa de marca. Ainda a pé rumamos até à marginal e contemplamos a paisagem até à hora do almoço. Almocei bem e comi comida da Europa, pizza. Após alguma caminhada, calor e barriga cheia, decidimos ir para casa, o passatempo foi desmanchar as tranças africanas, made in Cabo Verde. Quanto ao final de dia esse foi para esquecer, foi um jantar semi formal, uma seca, para as cá de casa e para além de fazermos sala, fomos todas mordidas enquanto saboreávamos o café. O domingo estava programado, seria de passeio, sair da cidade. Rumamos até ao Norte, e a primeira paragem foi a roça Agostinho Neto, a minha representação mental, era de uma roça grandiosa em tamanho e porque é a maior de STP. É uma pena o estado em que se encontra, não há conservação e as pessoas que lá vivem, já ocuparam a maioria do espaço, estando para breve, a sua destruição total. Resta-me ficar com a imagem de grandiosidade e de que no passado, esta roça deva ter sido um sonho. Fomos a praia das Conchas, semi deserta e deu para os primeiros banhos, o calor, levou-nos a ir almoçar às Santolas e a conhecer a comunidade piscatória. De seguida fomos até à roça Diogo Vaz, que até ao momento é a única que vi, que está a ser reaproveitada, com uma escola Campo para jovens internos e não só. Admirável o esforço e é pena não haver mais assim. De volta a capital, o corpo pedia descanso, e banho, deu para descansar e o banho com um fiozinho, foi o possível. Fazíamos tempo em casa, para o primeiro concerto deste género em STP, íamos assistir ao espectáculo dos Irmãos Verdades, um grupo angolano, que encheu o coliseu dos recreios, segundo uma fonte segura. Foi engraçado, não sabia que algumas das músicas cantadas eram deles e ainda deu para agitar a anca. Sem dúvida um dia em cheio, que me preencheu pelas paisagens maravilhosas que me acompanharam ao longo deste dia.
CF

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

5ª feira em STP

Numa 5ª feira normal em STP, teria como final de dia a passagem obrigatória pelo Café e Companhia, esta noite era reservada para o happy hours. Uso o verbo no passado, porque neste momento o café, mais frequentado por estrangeiros em STP fechou, pensamos que temporariamente, até se encontrar nova gerência. Deixo o convite a candidataram-se à gerência, é o café mais europeu em STP. Tendo em conta que está fechado ao final da tarde, escreve-se nova entrada para o blog. Esta semana foi caracterizada por muito trabalho, de manhã ou vou a reuniões ou preparo a formação, da parte da tarde estou a dar formação. Até ao momento o saldo é positivo, mas isto custa, é duro…estou novamente há dois dias sem banho, e a todo o momento a olhar para o botão da TV que me indica quando temos energia. Já percebi porque é que em África temos a moda de usar lenços na cabeça, não, não é por termos a mania, mas porque passados dois dias sem lavar a cabeça, para além de dar comichões, o teu cabelo tem um aspecto pastoso. Passando adiante, de resto tudo está a correr bem, tenho comido peixe, muita banana e quanto a bebidas, deixei-me da cerveja nacional e passei a beber a boa da coca-cola, mais pelos seus efeitos controladores de intestinos. São exactamente 17.35, e quase noite cerrada, aqui as horas têm que se dizer assim, porque se disser 5.35, pensam que é de madrugada, mesmo verbalmente, enfim há que integrar as normas que agora me regem. Quanto a passeios, nada programado ainda (aqui o ainda sozinho, quer dizer ainda não).
Enfim, aguardo comentários, é bom termos feedback de quem nos lê.
CF

terça-feira, 1 de setembro de 2009

1º dia de formação

Após uma semana em STP, já deu para assimilar algumas coisas, ouvir muitas pessoas e pensar ou fantasiar que este primeiro dia de formação, talvez não fosse tarefa fácil. Como toda a gente ao diferente oferece-se resistência, estava à espera de ser olhada de alto a baixo, a branca que vem ensinar-nos coisas… nada disso, fui muito bem recebida pelo meu primeiro grupo de formação e o dia, correu bem. Embora aqui as coisas se passem de forma diferente, quem vem à formação e neste caso no período da tarde, temos que oferecer almoço e lanche. Quem trabalha no centro e não vem à formação (só para a semana…) também vem buscar o almoço, incrível. Mas o que é certo é que as pessoas de nós não esperam outra coisa, mais as ajudas de custo para as deslocações, visto que vêem de fora do distrito. Há pois, sem estas benesses não há adesão. Bem são formas de funcionar. Estou há uma semana cá, mas só mesmo hoje me senti verdadeiramente a trabalhar, talvez pelo contexto de formação, estar com os técnicos, partilhar experiências profissionais… mas sem dúvida há muita coisa a mudar. A área de formação é VIH, logo o uso do preservativo, mas aqui o lema predominante é que a banana não se come com casca, fiz-me entender  pois mudar comportamentos e mentalidades é o desafio.
Ao sair da formação fiz uma caminhada ainda longa para ir ter com a minha amiga que estava numa reunião, quando vou muito bem a andar, alguém grita pelo meu nome, achei estranho afinal a voz não era conhecida, ao virar-me vejo a Cristina (nossa ex empregada) que me acenava e perguntava se estava tudo bem. Isto para vos contar que me senti mesmo cá, já pertenço aqui, alguém de fora das pessoas do meu círculo, me reconhece nas ruas de STP e grita pelo meu nome. Coisa simples, mas que me fez sentir em casa.

CF

Nem tudo é um estado de graça…

O meu primeiro fim-de-semana em STP começou bem, na sexta fomos jantar a Trindade, a casa do Padre, melhor, um restaurante gerido pela igreja, muito bom, recomendo e de seguida fomos às noites crioulas, animadas e com muita dança. Deitamo-nos mais tarde do que o costume meia-noite. Tínhamos programado ir fazer as compras para a semana no mercado, muita agitação, cor e gente. De seguida participei no programa de rádio, expliquei aos ouvintes o que venho fazer a STP e foi interessante. Não estaria a ser verdadeira se contasse só as coisas boas, confesso que numa visita que fiz esta semana à maternidade que se encontra no hospital central, não me senti muito bem, quase desmaiei, muito calor, falta de ar, pressão a descer e com condições degradantes, não consigo imaginar as mulheres que lá se encontram a dar à luz, num local daqueles. Só para vos dar uma ideia, as mulheres que têm possibilidades, pedem aos familiares para lhes levarem um garrafão de água para poderem tomar banho. Não há água no hospital, e as enfermeiras chamam-nas a uma determinada hora (madrugada) para tomarem banho, caso não vão, depois fecham os chuveiros o resto do dia. Fiquei muito incomodada por ter ouvido estes relatos, por ver a degradação da maternidade… talvez por ser mulher esta realidade incomodou-me de mais, afinal ter um filho deveria ser algo de muito bom, mas nestas condições, não sei se só de pensar em ir para um sitio destes, dá alguma alegria a alguém. Associei as imagens que vi, a um campo de concentração e após esta visita, a minha fome desapareceu, mas mais do que a minha fome, pensei nas injustiças sociais, estar grávida em STP não é de todo um estado de graça.

CF

A Galinha tem que ser mole…

Não consigo resistir a contar-vos a minha aventura de um dos meus almoços. Desde que chegámos ainda não tivemos oportunidade de ir às compras, por isso, as refeições têm sido feitas na rua. Hoje na hora do almoço comentei com a minha amiga que estava cheia de fome, disse-lhe mesmo que queria comer comida europeia, tipo hambúrguer. Descemos a pé até à cidade e ela decidiu que virávamos à direita e procurámos um sítio para comer. No primeiro que encontramos não tinha refeições, continuamos a andar e no próximo havia muita comida. Mal ouvi falar de coxa de galinha, pensei que venha ela. Veio… mas dura dura, que eu já estava a suar só de tentar comer. Não queria desistir à primeira e pedi uma faca que cortasse melhor, passados uns minutos aparece o Sr. com o facalhão da cozinha, o riso foi geral e mesmo assim não deu. Para quem vier a STP quando decidir comer coxa de galinha, tem que obrigatoriamente fazer uma pergunta se é dura ou mole. Muito importante mesmo fazer esta pergunta, porque já voltei a comer coxa de galinha mole e é maravilhosa.

CF